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Devo ter adormecido e quando acordei no meu sonho, eu era outra pessoa. Ou melhor parecia ser eu na mesma, mas numa outra época. A primeira coisa que senti foi o meu corpo, internamente, desesperado, perseguido, cansado, esfomeado, como se há meses andasse em fuga.
Depois como uma máquina que arranca quando ligada, eu senti e vi o meu corpo por fora, um corpo novo, mais novo que o meu, a roupa estava em farrapos, o cabelo desgrenhado, as unhas cheias de terra, uns olhos cansados de quem não dormia, e o cheiro, mau, terrível, de quem não se lava.
O cérebro e os meus olhos piscaram, era a memória que chegava, e com ela a consciência, um líquido vital percorria-me as veias, eu acordava-me completamente, e agora lembrava-me de tudo.
A notícia tinha-se espalhado por todo o reino, ultrapassara depois fronteiras e chegara aos clérigos, eles não acreditavam no que ouviram, era uma porra de uma heresia, que eu por acaso descobrira.
Eu tinha a fórmula. Eles sabiam do poder da minha fórmula, e logo decidiram que se não fosse destruída o mundo deles como o conheciam, acabaria.
E num só dia, eu, Vie Hagra, grande curandeira do povo, que curava as doenças do mundo, passei a ser conhecida por bruxa, bruxa conhecida e perseguida por todos, porque as descrenças têm disto, há sempre razões para tudo, mas cada um tem a sua, a maioria fabricada à medida, as pessoas são assim mesmo, mesmo que não exista razão nenhuma.
Eu olhei em volta, e vi que estava numa espécie de palheiro ou curral, quando a noite viera, eu saíra da floresta a correr e tinha-me ali escondido, não é que a fome ou a ausência de alimentos me vencesse, eu afinal tinha conhecimento suficiente para me alimentar de raízes, bagas e outras coisas, o pior mesmo era a vontade, precisava de água e de um bom bocado de carne.
Naquele momento pensei, “onde estaria o bispo? Eu estarei longe dele o suficiente para não ser apanhada por ele? E para onde eu iria depois?”.
Não sei se adormeci no meu próprio sonho, mas recordava-me do meu trabalho de todos os dias, coletar ervas no campo, preparar as minhas receitas, e mais que tudo, ouvir as pessoas, principalmente as mulheres, quando se queixavam dos maridos, que eles não se levantavam.
Quero esclarecer isto bem!! O que elas se queixavam era que os pénis dos maridos não tinham ereção.
Mas com estas queixas, elas expunham também as suas razões e com elas as suas confidências, dizendo que se eu não arranjasse solução, elas teriam que procurá-la por outros meios, e o mais certo, seria enganarem os maridos, e ir á procura de caralho noutros lados.
Nunca deixei de pensar que esta estranha condição de servidora dos outros, como curandeira ou bruxa, me deixava um pouco distante desses conflitos terrenos, de necessidade dum pénis teso como uma urgência animal, ou como um afirmativo masculino, sempre tão falado por todos, que quase era verdade, o caralho era o centro de tudo.
Eu deixava-me ir nessas reflexões, o caralho conseguia ser mais importante que uma cona, um caralho sem vida, não trazia alegria nenhuma, porque tendo muitas funções, a melhor, era a de manter a família unida.
O cheiro que vinha do meu corpo era aterrador! Há semanas que não tomava banho e não havia maneira de não coçar a cona, um desconforto do caralho.
Naquela altura também eu acreditava que o que não tinha solução não merecia o meu tempo, e pensava eu, o que está morto, é definitivo, e depois caralhos que mais pareciam ser problemas de mulheres.
Até ao dia em que me apareceu um homem, desesperado que ele não conseguia, e disse, “por favor, curandeira Vie Hagra, ajude-me a levantar o pau senão a minha mulher arranja um outro qualquer”.
Nunca tinha sentido um desespero tão grande, e a verdade é que era o primeiro homem que me aparecia a falar no assunto, e eu ainda disse, “mas você tem quase setenta anos e ainda quer levantar o pau?”, ele queixava-se, “a minha mulher é jovem, e eu nunca vi uma desgraçada a querer apanhar tanto na cona, curandeira Vie Hagra, ela não me larga”.
Eu finalmente tinha um assunto que chamava a minha atenção, e depois, não sou mulher de negar um desafio, era um grande projeto, seria difícil, é certo, caminhar contra a natureza, fazer levantar caralhos era pura alquimia, muito mais difícil que fazer ouro do chumbo.
Até descobrir a fórmula ainda levei algum tempo, eu tinha aquele homem que era a minha cobaia, e um dia dei-lhe um preparado, e aquilo não fez efeito merda nenhuma, mas de repente dei um grito, “caralho!!”, atirei com uma erva para a fervura, aquilo deu um espirro estranho, e então disse-lhe aquilo, “beba essa merda, que mal ou bem nenhum lhe faz, isso tenho eu por seguro”.
Não demorou mais do que alguns minutos, em momentos o homem ficou azul, e ainda pensei que ele fosse ter um caralho de um ataque do coração, só que de repente ele riu-se, e eu vi, com estes olhos que a terra há-de comer, um caralho enorme a crescer.
Eu nunca na minha vida de curandeira tinha visto um sorriso tão grande estampado no rosto de um homem, tanta alegria concentrada numa face, o homem manobrava o pau, como o leme de um navio, e eu pensava, “foda-se!! Vie Hagra, és realmente muito boa”.
O momento tinha de ficar registado, eu tinha de tirar notas, fazer testes no instrumento, e eu disse, “deixe-me agarrar no caralho”, comecei a apalpar, a analisar a dureza, e eu perguntei, “como era dantes? Era tão grande como está agora?”.
Ele respondeu, “não, agora está muito maior e mais duro, é um milagre”, e quando eu ouvi aquilo, eu disse logo, “até termos a certeza, temos de manter isto em segredo, eu vou experimentar tudo, para ver se é para o futuro”.
Só que depois ele não aguentou, pediu-me o preparado e foi experimentar na mulher nova, e foi aí que a merda começou.
Quando ele apareceu à mulher jovem com o caralho teso daquela maneira, a rapariga apanhou um susto, pensou que era uma assombração, um homem velho de pau na mão, a querer comer a cona dela.
Mas desta vez ninguém disse que era um milagre, ela foi a correr queixar-se ao bispo, que o marido a perseguia, que a culpa era toda minha, que eu era uma bruxa, mas eu sabia, ela tinha-se queixado a mim que o marido não levantava, e que isso era a desculpa, porque ela fodia com outro homem.
O problema maior é que o marido velho nem se importava, que a mulher fodia com outro homem já ele sabia, ele queria o preparado para sentir o pau teso, essa energia vital que o unia todo, a lembrar-lhe o corpo dinâmico de quando era jovem.
Mas o bispo viu na minha fórmula uma alteração dos costumes muito grave, a fórmula tinha de ser secreta, não era aceitável para a igreja que homens velhos andassem por aí com o caralho levantado, mesmo que não fosse pecado era muito mau para a doutrina, e começou então a perseguir-me, dizia-se que ele também não levantava, se calhar era por isso.
E é por isso que fujo, …..
Foda-se!!! quem me sonha está a acordar.
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