Colar mágico - BIOGRAFIAS ERÓTICAS
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Colar mágico


Estou há horas sentado na poltrona da minha loja, quando a vejo entrar e começar a andar pelos corredores da caverna de Aladino que eu venho enchendo de coisas antigas e belas ao longo das últimas décadas.


Já a conheço e sei o que vem fazer!

Não é a primeira vez que ela entra na minha loja de coisas únicas, há quem lhes chame antiguidades, para roubar alguma que lhe agrade.

Entrar alguém na minha loja é sempre um acontecimento, sinceramente não espero que alguém entre, e a maioria das vezes nem quero que isso aconteça, prefiro ficar sozinho e não vender nada.

Já basta ter que ver todos os dias os intestinos do mundo por uma lupa. Tanta merda!! E sinceramente não a quero dentro da minha loja.

Mas se vender, só a quem verdadeiramente aprecie, que saiba o que paga, entenda que o dinheiro não é lucro, recebe-se moeda em troca do desapossamento da beleza, foi-se dela guardião e protetor por muito tempo, e é essa perda o maior sacrifício.

Como dizia, ela só rouba, com um corpo de malte esguio rápido nervoso, comandado por uns olhos negros profundos inteligentes, um todo espírito quase egípcio, pelas suas escolhas, a roupa, as tranças no cabelo, o andar desmazelado, o tom enternecedor da voz, e o sorriso lúcido.

Da primeira vez, ela roubou uma pequena estatueta, de pouco valor monetário, mas de uma enorme gratidão, de um velho em pé em cima de uma rocha olhando o horizonte, não amada quando a vi, e que encontrei, ou me encontrou ela, numa das minhas viagens pelos cantos do mundo.

Agradou-me profundamente que ela roubasse aquela peça, agradou-me a escolha, tenho objetos muito mais valiosos na minha loja, alguns ainda do tempo dos meus pais, também eles protetores das coisas únicas, e aquela valia pela compreensão, minha compreensão, de que aquela jovem ladra sentia a beleza como eu.

É tão difícil encontrar alguém igual.

E se não era para vender, que utilidade daria aquela jovem mulher acobreada a uma estatueta de bronze de palmo e meio de um velho em pé em cima de uma rocha olhando o horizonte que não fosse apenas para a ter nos seus aposentos íntimos para a admirar, para a fazer sonhar, pensaria ela em mim, nos meus cabelos brancos?

Agora ela está novamente na minha loja, com o mesmo sentido de ser, a mesma leveza de uma gata, eu conheço-lhe os passos, em busca de algo que a desperte, que tenha significado, que justifique o seu ato.

E a minha curiosidade é imensa, quase febril, o que roubará ela desta vez? De entre tantas coisas únicas, qual será aquela que ela achará como mais única ainda para ela? A que merece mais ser possuída?

Eu vejo-a caminhar agora lenta, tocando cada objeto com a palma da mão, com uma caricia acompanhada de uma lágrima, parando e depois avançando pelo corredor, os olhos negros intemporais, subindo e descendo pelas prateleiras, como os de uma deusa que procura o que lhe pertence e é seu por direito.

Ela parou, eu sinto-lhe a transpiração, duas pérolas que brilham na testa de cobre, as batidas do coração sinto-as também, num ritmo crescente que se juntam às minhas, somos animais, sangue, deuses, pó suspenso no ar em cortina de sol, e sós, sob a flagelante vibração de um piano silencioso.

As mãos pousaram finalmente num colar, um metal antigo sem a presunção de se confundir com ouro, pedras de lápis lazúli encastradas num desenho enigmático, que pode ser mapa de um tesouro, chave de portal de um mundo paralelo, mecanismo de transporte para outro tempo.

E ela agarrou-o, o colar enrolou-se-lhe na mão como o braço de uma planta exigindo unir-se ao mineral e à carne, entranhando-se nela e fazendo parte dela, do seu corpo, um objeto inanimado que ganha vida e desperta com o encontro, há tanto tempo que te esperava.

Eu percebi nela um sorriso acanhado, passou por mim com os olhos em baixo, podia ter saído por outro lado, com um sentimento de culpa, e quando se distanciava, numa voz rasteira como o vento no deserto, eu disse, “acho que tu levas aí contigo uma coisa que me pertence”.

Ela podia ter fugido, e certamente eu não corria atrás dela, se não fosse para lhe dizer que voltasse sempre, mas ela retrocedeu e tirou o colar de um bolso, de um vestido liso que lhe caia em ondas pelo corpo, “peço desculpa, não resisti, é como se tivesse sido feito para mim”.

Eu sorri, “acho que tens razão, eu sinto o mesmo, é como se o colar tivesse um espírito preso nele que chama por ti, pelo teu corpo, nunca o ouviste?”, foi um reflexo, eu olhei-lhe para as mamas e nelas vi vincados os mamilos rijos, dois pontos salientes e negros, pobre de mim que pensei, apenas duas peles, uma de tecido e outra de seda, não tem nada por baixo.

Acho que ela entendeu, a minha vergonha instantânea, daquele olhar inusitado, afastou-se de onde eu estava, a pedir que a mirasse de alto a baixo, e ela disse a sorrir, “acho que sim, quando olhei para o seu colar ele chamou-me”, e eu continuei, “como a estatueta de um velho em pé em cima de uma rocha olhando o horizonte que tu levaste?”.

O silêncio foi rápido e logo preenchido, “essa apenas quis compreender a beleza! tenho-a no meu quarto, observo-a todos os dias, mas ainda não a compreendi, e talvez nunca consiga, quero muito devolvê-la, está na minha memória, talvez um dia”, e eu perguntei, “e o colar?”.

Ela olhou para mim profundamente como se tentasse perceber a minha pergunta, e eu continuei, “no antigo Egipto, as sacerdotisas ofereciam-se nuas aos deuses, apenas com esse colar no corpo, se o puseres saberás mesmo se ele se molda a ti e te pertence, porque senão não és tu a quem ele quer”.

Não sei se ela sorriu, condescendente pelos meus cabelos brancos, se pela experiência carnal de se mostrar nua com o colar, mas eu ouço-a dizer, “gostava muito de o pôr, se quiser e me deixar”, e fez um gesto único, levou os dois dedos às alças do vestido e deixou-o cair sozinho a escorregar pelo corpo.

O tom acobreado que a cobria, os seios tesos presentados por mamilos em cima, o ventre liso em curvas feitas de dunas de deserto, e um oásis de pelos negros e lustrosos no meio, que me tirou a respiração e me fez pedir, “aproxima-te minha deusa, deixa que eu ponha o colar no teu pescoço”.

Ela rodou, e o que era belo à frente, era ainda mais belo por trás, as nádegas redondas unidas a um risco simétrico, ela levantou os cabelos docemente, eu pousei o colar no pescoço, e ele moldou-se às formas como um coral vivo a agarrar-se á rocha, e quando se voltou para mim, não aguentei e disse, “realmente, os deuses chamam por ti, eu também os ouço, és linda”.

Quando lhe pedi que se vestisse e levasse o colar com ela, ela disse, “não, guarde o colar por mim, quando eu quiser que os seus deuses me chamem, eu volto aqui”, e saiu, já não a vi, apenas ouvi o sino na porta a bater.

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