CENSURADO - BIOGRAFIAS ERÓTICAS
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CENSURADO

Insinuou-se durante a noite, mas foi aparecendo à medida que raiava o dia. O Inquisidor e Censurador. Mostrou o formulário das regras do sentido único que trazia nas mãos e a ordem de fecho. Dizia que nem por todos, todas as palavras são possíveis, porque só há um tipo de homem aceitável.


Eu até tinha aprendido muito com a D. Gina, a mais puta das mulheres, que costumava dizer, "podem comer a minha cona, mas ninguém fode a minha cabeça", quando se referia àqueles que faziam muitos comentários a falar mal da sua digna profissão de prostituta.

Mas isso foi noutros tempos, hoje perseguem-nos por tudo, mas não como dantes, o que se é ou o que se faz, agora até a mais perfeita das palavras pode ser censurada, palavras como a mais virtual criação do homem, e se há palavras sendo elas o Lego das mentes, há pensamentos e escolhas feitos delas, e assim são também elas censuradas.

O Censurador deixou claro que a fé na crença mais a falta de sentido critico, obrigava a que essa coisa de fazer das palavras, palavras de ouro, e com elas, essa coisa de fazer construções do pensamento, não podia ser deixado aos homens, mas sim, em vez deles, entregue a alguém superior.

E foi quando o Censurador disse que a ordem era de fecho mas não total!!

Parece que foi decidido que a um ou outro tipo de homos erectus inaceitáveis e marginais, certas palavras e leituras poderiam ter um efeito terapêutico, a outros não.

E assim foi permitida a abertura apenas num horário muito definido entre as 12 e as 14 horas de cada dia, depois tinha mesmo de fechar.

Ainda perguntei o porquê desse horário, e respondeu-me o Censurador que o homo erectus marginal tende a gostar de consultar blogues de conas, cus e caralhos, mais ou menos na hora da refeição, e mesmo quando está a comer, enquanto nessa hora o homem aceitável ainda perde algum tempo a trabalhar.

Diz o Censurador que assim o perigo do homem aceitável ser influenciado por palavras que não devem ser ditas é reduzido. 

Ter o meu espaço de pensamento e livre expressão invadido desta maneira, perguntei ao Censurador "quem é que caralho! ia prestar contas desta violação contra as liberdades das pessoas comuns".

Mas ele respondeu que tinha sido decidido "restringir o público das suas tentativas imorais" e "impedir que as pessoas se tornassem vítimas das suas próprias loucuras ", e coisas assim.

Com essa resposta, eu vi ali um primeiro sintoma de insanidade do Censurador, um homo pequenus, e que melhor escolha poderia ter o ser único superior!!, o dono das palavras e dos pensamentos dos homens, para exercer a sua vontade sobre os outros, senão através de uma pessoa pequena.

Analisei o Censurador, e pela aparência do sujeito percebi que era uma pessoa abaixo do normal em inteligência. 

Também a severidade e morbidez da sua expressão facial sugeria um ser em sofrimento nos últimos estádios de melancolia crónica. Ao ter sido dita uma piada, a ver se o Censurador sorria, em vez de o fazer, ele fez uma careta e levantou as mãos com uma expressão de horror. Mais um sintoma.

Enquanto o Censurador apagava da história as nossas palavras, colocámos um pouco de música a tocar, mas o sujeito não mostrou a menor sensibilidade ou resposta à melodia. Quando perguntámos a sua opinião sobre o som, o seu único comentário foi "é imoral". Mais um sintoma.

Outro sintoma veio depois, quando perguntámos ao Censurador sobre o que entendia das palavras "riso" ou "humor", em que a sua resposta foi "que eram instrumentos do diabo". 

E então quando perguntámos o que achava das palavras, "Tabaco-dança-cartões-magnéticos-whisky-baton-rouge-saias-curtas-pescoços", ele deu a resposta de que eram "as artimanhas do diabo".

O Censurador não tinha nenhuma possibilidade de recuperação, era um ser insano, perdido de si mesmo, e condenado na sua própria desgraça, porque parece que nem todos podem ser outra coisa que não serem apenas quem são.

Mas porra!! não nos era permitida outra coisa senão obedecer!! 

A partir de agora e enquanto o ser único mandar, abrimos às 12 e fechámos às 14.


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