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Estamos em 1677. Com Deus e pelo Diabo recebo ordem de passagem e vou ao passado ver e compreender com os meus próprios olhos. Encontro-me com o Mick Sensation na sua casa onde está em prisão domiciliária. Aguarda julgamento há vários meses e o que pende sobre a sua cabeça é a acusação de sodomia.
Mick é acusado de, ao longo de vários anos, mais de três décadas, ter comido o cu de vários homens. Ele aceita falar sobre o assunto e é isso que eu faço: coloco no papel as suas palavras o tão fielmente quanto consigo.
O Mick conta. Casou-se no ano de 1645 com uma mulher severamente católica, muito ciente das suas obrigações com a igreja, que não lhe deu a ele, nem cama nem filhos, e cuja única vantagem em tê-la como mulher foi herdar do sogro um negócio que nem ela nem o irmão conseguiam administrar, fazendo dele e da família, nos anos seguintes, membros importantes e prósperos da comunidade.
Agora em 1677, o Tribunal acusa-o de ter sodomizado vários homens e rapazes, com quem se deu na intimidade, e aproveito para perguntar se é mesmo verdade, ou se é falso e se é boato o que dizem na rua os vizinhos e conhecidos dele ter comido o rabo a várias pessoas do mesmo sexo.
Ele diz que sim, que é verdade, ao longo de muitos anos, desde sempre que faz sexo, mesmo antes de ter casado, e detalha, deixa bem vincado, nunca com crianças, que ele não é pedófilo, sempre com jovens e homens esclarecidos, e com o seu consentimento.
Eu replico: “pois, mas meu amigo, estamos em 1677, você sabe como é, a sodomia é proibida, são as ideias desta época ...”, ele interrompe, “são as ideias desses padres mal-intencionados, e se eu, em vez de foder um cu de homem, foder um cu de mulher? Se for assim a sodomia já é aceitável?”
Eu não sabia o que responder, até no século 21 a coisa era complicada, ninguém se importava com a natureza do cu que fodia, mas que essa questão estava adormecida nas mentes, lá isso estava, eu perguntei, “e o cu da sua mulher?”, ele sobressaltou-se, “o que tem o cu da minha mulher?”, eu insisto, “pergunto se já o comeu?”
Acho que por segundos, eu vi-lhe uma expressão misturada de horror e nojo na cara dele, “nem o cu, nem a cona, ou melhor, acho que fodi, mas a minha memória é fraca, penso que na altura senti-me tão mal que esses momentos estão recalcados no meu inconsciente para sempre, fodê-la não era diferente de foder uma pedra, ainda por cima ela é fria como o caralho, ela dava-me arrepios e eu não conseguia ficar teso”.
Estas questões da sodomia, devido ao caso dele, tinham-se levantado na sociedade, todos pareciam ter uma opinião, todos tinham uma teoria, a tudo atribuíam nomes e conceitos, até os que nunca tinham fodido nada, achavam que o lado que defendiam era o que estava certo, eu achei que me dava prazer fazê-lo reviver aquelas memórias e eu perguntei, “mas nem sempre terá sido assim? em algum momento terá sentido o fogo da paixão pela sua mulher, quando a fodia, quero eu dizer?”.
Eu reparei que a expressão de horror e nojo foi substituída por desalento, ele baixou os olhos um pouco, “foi como disse, estamos em 1677, a paixão conta pouco, e de qualquer maneira, o fanatismo da religião retira aos homens e às mulheres a pouca paixão que lhes resta, pergunto ao meu querido amigo se não são as proibições da religião que provocam o seu maior erotismo?”.
Eu fiquei surpreendido com aquele momento profundo e tão filosófico que o Mick tinha acabado de criar no meu espirito, até que ele depois rematou e estragou tudo, “as gajas e os gajos crentes em nosso senhor, mas que não são fanáticos, adoram apanhar no cu”.
Na altura achei por bem reavaliar imediatamente o meu posicionamento, apesar do mundo um pouco confuso do século 21, em que a espécie humana parecia estar a dividir-se em várias subespécies, cada uma com o seu legado a ser seguido, eu pensei, “bem, se eu fosse razoável, eu não acreditava em nada, mas acho que ainda sou crente em alguma coisa, se calhar gosto de levar no cu?”.
Eu não queria perder-me em considerações, e percebi logo que a minha jornada de compreensão ao ano de 1677 teria de ir muito mais longe, eu teria de entrevistar outras pessoas, muitos senhores que achavam que sabiam tudo, outras correntes de opinião, porque achavam que a sodomia não era boa, perceber como pensavam, eu virei-me para ele, “mas Mick, porquê comer o cu de homens?
A postura de reflexão regressou ao seu corpo, era um homem grande, intimidava pela forma de falar, um urso peludo com uma barba grossa, que submetia as pessoas com poucas palavras, não tanto pela arte de convencimento, mas pela força e pela energia, ele falou baixinho como que a confessar-se a um carrasco, “eu sempre gostei mais de cu”, eu ouvia com atenção, “sempre, acho, desde que tenho tesão”, ele parou uns segundos e prosseguiu, “e excitam-me os homens, gosto de montá-los, submetê-los, e gosto de dar prazer, corresponder ao prazer que eles me querem dar”.
Eu achei que ainda faltava mais qualquer coisa, “mas eles, os homens, querem mesmo dar-lhe o cu?”, ele sorriu com esperança no julgamento, “os que fodi, todos queriam piça”, eu senti pelas palavras que o meu pau ficara duro e pelo volume que eu via no robe do meu entrevistado acontecia a mesma coisa, “não imagina o que eu gosto de baixar umas cuecas de um jovem merecedor do meu pénis teso, apertá-lo contra uma parede ou uma cama, e penetrar o rabo deles!.. é tão violentamente erótico, caralho!!”
Eu já pensava que sim, ou melhor, sentia que sim, o meu pau estava como pedra dura, e achei que era altura de ir-me embora e quando eu me levantei, ele olhou para as minhas calças, “sabe, eu não tenho tido visitas nenhumas, os meus amigos que tanto gostavam da minha companhia, foram-se embora”, ele levantou-se também, o robe abriu-se e vi uma cabeça grossa, um galo ereto grande a sair entre as abas, “está a ver como eu ando? Imagina o que é estar em casa sem ter um cu para foder?”
Fui caminhando para a porta, “eu sei, eu compreendo”, ele quase gritava, “não quer ouvir as vezes e os gajos a quem eu comi os cus?”, eu respondia, “agora não, mas eu vou voltar, ainda vou primeiro ouvir outras pessoas”, ele insistia, “eu fico à tua espera, e eu sei que queres, meu jovem ..”, eu virei a cabeça, “imagina esta piça a entrar no teu cu”, abanou o instrumento, e ouço um barulho, vejo que é a mulher, “não ligue, ele fode-o para a próxima”.
Eu saltei para a rua e fui-me embora, a pensar que tinha de voltar para fazer mais perguntas, mas antes iria ouvir as vozes de quem se achava acima do povo para perceber porque iria ele ser condenado.
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