De que falamos quando
falamos de erotismo?
A palavra gera muitas confusões e a primeira está na tentativa de fazer do erotismo um sinónimo de sexualidade.
No entanto, de há algum tempo para cá, essa confusão parece ter atingido os media, as redes sociais, a literatura, a opinião pública em geral.
De tal forma que um livro como As 50 Sombras de Grey vende milhões sob o epíteto de “erótico” como se não fosse apenas uma versão alargada dos muito estimáveis romances cor-de-rosa da Harlequim Books (em Portugal comercializados pela editora Abril sob os nomes de Bianca, Júlia, Sabrina), os Corin Tellado lidos nos anos 60 e 70.
Pior, é como se atrás dele não existissem milénios de literatura Erótica (assim mesmo, com “E” maiúsculo), do bíblico Cântico dos Cânticos aos poemas de Sapho, da Arte de Amar de Ovídio aos livros de Sade, de Sacher-Masoch a Henry Miller onde o erotismo se manifestava na sexualidade mas não só.
Esta relação fundamental entre a palavra e o erotismo está magistralmente tratada por Pascal Quignard no livro Vida Secreta (ed. Notícias) a precisar urgentemente de ser reeditado por cá.
Os livros de Louÿs foram considerados muito subversivos e uma dessas “subversões” era a importância que ele dava à sexualidade feminina, como celebrava o desejo sexual das mulheres (e o seu direito a ele), mas também as perversões, a capacidade transgressora, impúdica e libertina das mulheres.
A Mulher e o Fantoche é a sua obra mais aclamada e teve adaptações ao cinema de Josef von Sternberg (com Marlene Dietrich), de Luis Buñuel e de Julien Duvivier. Foi publicada há uns anos pelo Círculo de Leitores.
Não sou um editor convencional e não quero publicar coisas convencionais”. E cita o poema de Herberto Helder, Amor em Visita, como “uma das coisas mais eróticamente grandiosas da literatura portuguesa das últimas décadas”:
Em Portugal, que já produziu muitos e bons escritores e poetas eróticos, vemos que este tema está hoje reduzido (ainda) aos poetas da Geração 61, como Maria Teresa Horta ou Casimiro de Brito, que pouco dizem a quem cresceu nos anos 80 e viu filmes como Nove Semanas e Meia de Adrian Lyne, Lua de Mel, Lua de Fel, de Polansky, Henry & June de Philip Kaufman, quem leu Al Berto, Luís Miguel Nava ou Herberto Helder, quem não idealizou a revolução sexual mas efectivamente a viveu.
Como nota Pascal Quignard em Vida Secreta, a boca e os olhos são os mais importantes órgãos do erotismo. Os olhos por onde entram as imagens que vão alimentar o nosso imaginário e a boca, que recebe o alimento e a linguagem (curiosamente o latim mostra como estas ligações arcaicas mama (seio e mãe) e ama (a que cuida/amor).
A palavra gera muitas confusões e a primeira está na tentativa de fazer do erotismo um sinónimo de sexualidade.
No entanto, de há algum tempo para cá, essa confusão parece ter atingido os media, as redes sociais, a literatura, a opinião pública em geral.
De tal forma que um livro como As 50 Sombras de Grey vende milhões sob o epíteto de “erótico” como se não fosse apenas uma versão alargada dos muito estimáveis romances cor-de-rosa da Harlequim Books (em Portugal comercializados pela editora Abril sob os nomes de Bianca, Júlia, Sabrina), os Corin Tellado lidos nos anos 60 e 70.
Pior, é como se atrás dele não existissem milénios de literatura Erótica (assim mesmo, com “E” maiúsculo), do bíblico Cântico dos Cânticos aos poemas de Sapho, da Arte de Amar de Ovídio aos livros de Sade, de Sacher-Masoch a Henry Miller onde o erotismo se manifestava na sexualidade mas não só.
Manifestava-se na linguagem, nos elementos, na moral, nas verdadeiras
transgressões que se faziam aos códigos sociais e religiosos de cada tempo.
Regra
número 1: “não há erotismo sem transgressão”, como explica George Bataille
nesse ensaio fundamental chamado, justamente, O Erotismo (ed.
Antígona).
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Brigitte Bardot no filme Desprezo (1963) de Jean-Luc Godard, baseado na novela erótica de Alberto Morávia |
Regra
número 2: o erotismo, porque ligado à transgressão, está ligado à morte e ao
sagrado. Eros não era o deus da sexualidade era o deus das ligações e o seu oposto
Tanatos, deus da morte e da desligação. Ora sem Eros e Tanatos não há erotismo.
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Maria Schneider e Marlon Brando no filme Ultimo Tango em Paris de Bernardo Bertolucci, uma balada de sexo e morte |
Regra 3:
o erotismo não se resume aos uso dos órgão sexuais. Erotismo é uma forma de
ligação impulsionada por um desejo. O que impulsiona o erotismo é a busca de
algo que não se tem, o Outro. Logo, o principal veículo do erotismo é a
linguagem, verbal e não verbal. Quem tem uma linguagem pobre vai ter sempre um
erotismo pobre.
Esta relação fundamental entre a palavra e o erotismo está magistralmente tratada por Pascal Quignard no livro Vida Secreta (ed. Notícias) a precisar urgentemente de ser reeditado por cá.
Quem vai
mesmo mais longe, quando um novo conservadorismo triunfa em toda a linha, é
Manuel S. Fonseca da editora Guerra&Paz que, depois de ter publicado, num
só volume, o bíblico Cântico dos Cânticos e o livro
licencioso Manual de Civilidade para Meninas de Pierre-Félix
Louÿs, volta agora ao escritor francês libertino, do final do século XIX,
início do século XX, para iniciar uma coleção de livros eróticos.
Três
filhas de sua Mãe, de 1910, foi traduzido pelo poeta João Moita,
e narra as aventuras de um jovem estudante com as quatro mulheres que lhe
aparecem como vizinhas, precisamente uma mãe e as três filhas, cada uma com a
sua idade, a sua experiência ou inexperiência, os seus desejos.
Os livros de Louÿs foram considerados muito subversivos e uma dessas “subversões” era a importância que ele dava à sexualidade feminina, como celebrava o desejo sexual das mulheres (e o seu direito a ele), mas também as perversões, a capacidade transgressora, impúdica e libertina das mulheres.
A Mulher e o Fantoche é a sua obra mais aclamada e teve adaptações ao cinema de Josef von Sternberg (com Marlene Dietrich), de Luis Buñuel e de Julien Duvivier. Foi publicada há uns anos pelo Círculo de Leitores.
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Três Filhas de Sua Mãe, ou as mulheres ao poder, neste livro de Pierre Louÿs, que abre a coleção Eróticos Guerra&Paz |
Eróticos
Guerra & Paz terá continuidade apenas em 2018 e o
responsável editorial, em entrevista ao Observador, prefere não anunciar ainda
os títulos seguintes mas afirma que o seu objetivo “é lançar um conjunto de
livros clássicos e contemporâneos, de prosa, poesia e ensaio onde o tema seja o
erotismo mas não sejam necessariamente aquilo que o tempo e a história da
literatura definem como erótico.
Não sou um editor convencional e não quero publicar coisas convencionais”. E cita o poema de Herberto Helder, Amor em Visita, como “uma das coisas mais eróticamente grandiosas da literatura portuguesa das últimas décadas”:
Dai-me
uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e
seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei
a noite.
Dai-me
uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus
ombros beijarei, a pedra pequena
do
sorriso de um momento.
Mulher
quase incriada, mas com a gravidade
de
dois seios, com o peso lúbrico e triste
da
boca. Seus ombros beijarei.(…)
Questionamos
Manuel S. Fonseca, que além de editor da Guerra & Paz é cronista de cinema
no jornal Expresso, sobre se, no tempo das novas tecnologias, quando há uma
liberdade sexual impensável há apenas 40 anos, quando basta um click para
aceder a conteúdos eróticos e pornográficos na internet, onde a publicidade
banalizou os corpos e a sensualidade, se ainda é possível o erotismo?
Acredito
que vai continuar a haver pessoas a escreverem e a filmarem o erotismo, ainda
que de outra forma. Talvez precisemos de afastar essa ideia de que erotismo tem
que ter sexo. Ora o erotismo é também a expressão de um tempo se este tempo é
diferente talvez tenhamos que procurar literatura contemporânea erótica que não
obedeça ao erotismo como nós nos habituamos a pensá-lo. Penso que agora que as
imagens parecem esgotadas talvez os grandes livros eróticos do futuro sejam
aqueles onde o principal veiculo de transgressão será a linguagem e não as
relações sexuais”.
Grande
literatura erótica, para quem só se contenta com muito:
“Cântico
dos Cânticos”
“Filosofia
de Alcova”, Marquês de Sade
“Novelas
Eróticas”, Manuel Teixeira Gomes
“Henry
& June”, Anaïs Nin
“A
Vida Sexual de Catherine M.”, Catherine Millet
“O
Erotismo”, Georges Bataille
“Teoria
King Kong”, Virginie Despentes
“Amor
em Visita”, Herberto Helder
“Antologia
de Poesia Erótica de Satírica”, org. Natália Correia
Seja porque as
regras morais das sociedades contemporâneas eliminaram muitos interditos em
relação à sexualidade e às ligações entre os corpos e o mundo em redor, seja
porque as tecnologias criaram formas de proximidade que já não precisam de
presença física, seja porque o novo milénio trouxe um novo puritanismo como
reação ao excesso de imagens hiper-sexualizadas que circulam no espaço público
e os milennial parecem ter substituído o desejo de encontros sexuais por um
novo romantismo, a verdade é que a literatura erótica e o cinema erótico que
foram pujantes nos anos 60 e 70 e foram declinando nos anos 80 para quase
desaparecerem no novo milénio ou surgirem numa versão comercial kitsch que
envergonharia a grande dama do romance cor-de-rosa, Barbara Cartland.
Os homens, que
foram os principais produtores de literatura erótica, parecem ter-se recolhido
num sofrimento melancólico devido à ascensão social feminina (veja-se o livro
de contos de Frederico Pedreira, Um Bárbaro em Casa, ed. Língua
Morta que, apesar das inúmeras fragilidades, nos dá um curioso retrato deste
mal estar que os homens das novas gerações desenvolveram em relação ao corpo e
à sexualidade feminina que sentem como inalcançável).
Por outro lado, as
mulheres parecem ter trocado a sua emancipação social, sexual, financeira, por
um definitivo desejo cristão de amor, casamento e uma casa com piscina.
Ou será
que, como questiona o filósofo italiano Emmanuele Coccia, a nossa busca do
prazer está hoje quase totalmente dirigida aos objectos de consumo? Será que o
erotismo do século XXI só se pode encontrar na nova relação erótica com a
comida (e veja-se a abundante literatura que se produz sobre o tema e a
ascensão mediática dos Chefs tornados alvo do mais puro
fascínio erótico), com marcas de ténis ou gadgets tecnológicos.
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Nove Semanas e Meia um dos filmes eróticos que marcaram o imaginário dos anos 80, como Kim Bassinger e Mickey Rourke a darem um uso muito criativo ao frigorífico |
Em Portugal, que já produziu muitos e bons escritores e poetas eróticos, vemos que este tema está hoje reduzido (ainda) aos poetas da Geração 61, como Maria Teresa Horta ou Casimiro de Brito, que pouco dizem a quem cresceu nos anos 80 e viu filmes como Nove Semanas e Meia de Adrian Lyne, Lua de Mel, Lua de Fel, de Polansky, Henry & June de Philip Kaufman, quem leu Al Berto, Luís Miguel Nava ou Herberto Helder, quem não idealizou a revolução sexual mas efectivamente a viveu.
Onde estão os novos escritores e poetas
eróticos em Portugal? A Douda Correria acaba de fazer sair Caim e
Lilith, um diálogo erotizante entre duas figuras bíblicas, escrito pela
poeta Sandra Andrade, que pode marcar o renascimento do erotismo na nova lírica
portuguesa.
Eis
que um leito acolheu, cúmplice, dois amantes;
diante
das portas fechadas da alcova, ò Musa, sustém o passo!
Espontaneamente,
sem a tua ajuda, palavras mil hão-de ser ditas
e
não se quedará inerte no leito a mão esquerda;
hão-de
os dedos inventar que fazer naqueles sitios
em
que, às escondidas, mergulha as suas setas o Amor…”
[Ovídio,
livro II, Arte de Amar]
É certo que na
nossa tradição os poetas têm feito mais pelo erotismo do que os romancistas: da
lírica trovadoresca a Camões — o que é o episódio da Ilha do Amor (e não dos
Amores) senão um grande momento de erotismo?– de Bocage a Florbela Espanca,
Natália Correia ou, mais recentemente a Fátima Maldonado, Helder Macedo no seu
poema longo Romance ou Nuno Júdice na novela O
Complexo de Sagitário.
O romance
erótico tem sido pouco cultivado entre nós com algumas exceções, como o
erotismo relutante de Eça de Queiroz, em especial no Primo Basílio,
as Novelas Eróticas de Manuel Teixeira Gomes, ou O
Amor é Fodido de Miguel Esteves Cardoso.
Depois há toda uma escola de
romancistas cuja capacidade de trabalhar o erotismo redunda normalmente em
desgraça ou apenas em mau gosto como os casos famosos de José Rodrigues dos
Santos, Miguel Sousa Tavares ou Hans Nurlufts (pseudónimo literário de João
Soares).
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Os Sonhadores, 2003, o tabu do incesto em versão light por Bernardo Bertolucci |
Como nota Pascal Quignard em Vida Secreta, a boca e os olhos são os mais importantes órgãos do erotismo. Os olhos por onde entram as imagens que vão alimentar o nosso imaginário e a boca, que recebe o alimento e a linguagem (curiosamente o latim mostra como estas ligações arcaicas mama (seio e mãe) e ama (a que cuida/amor).
Ambas as palavras com vários “a” e “o”
redondos como a boca do bebé que recebe a comida e como os primeiros sons que a
sua garganta emite antes de dominar a verbalização das palavras.
Não obstante a
escassa produção de romances eróticos em Portugal, há por todo o mundo obras
primas que construiram o imaginário sobre o erotismo. Desde o oriental Kamasutra,
a outros menos explícitos mas não menos transgressores, como A Arte de
Amar, de Ovídio, pai de toda a literatura erótica Ocidental, a obras como Lolita de
Nabokov, A Morte em Veneza de Thomas Mann, Pantaleão e
as Visitadoras de Mário Vargas Llosa, A Casa
dos Budas Ditosos de João Ubaldo Ribeiro, Axilas & outras
histórias Indecorosas de Rubem Fonseca, As Sobrinhas da Viúva
do Coronel , de Guy de Maupassant, A História de O de
Pauline Réage, pseudónimo de Anne Desclos…
Não há, portanto, desculpa para nos termos tornado analfabetos eróticos. E deixamos sugestões, do romance à biografia, do ensaio à poesia.
"CÂNTICO DOS CÂNTICOS"
Não há, portanto, desculpa para nos termos tornado analfabetos eróticos. E deixamos sugestões, do romance à biografia, do ensaio à poesia.
"CÂNTICO DOS CÂNTICOS"
O Cântico
dos Cânticos é um momento de apoteose poética, onde o sagrado e o
profano convivem na mesma exaltação do encontro erótico entre os corpos. Obra
que se tornou símbolo maior do erotismo sexual, religioso e amoroso, onde se
evoca a nostalgia do momento em que os corpos não estavam para sempre divididos
e entregues a uma solidão ontológica inultrapassável. Onde se evoca o segredo,
a busca, a ausência e onde o erotismo é, antes de tudo, a tentativa de
encontrar o absoluto no cerne de cada ser.
"FILOSOFIA DE ALCOVA"
A Filosofia de Alcova, publicado em 1795, não é “p’ra meninos”. Que é como quem diz, não é para quem torce o nariz às pulsões mais violentas, agónicas e mortais que fazem parte do humano. Não é certamente para quem considera, como Rosseau, que o Homem nasce bom e é corrompido pela sociedade. A Filosofia de Alcova, mais do que um livro erótico sobre a educação perversa que recebe a jovem e pura Eugénia, é um livro político que influenciou profundamente autores como Freud, Maurice Blanchot, Pierre Klossowsky. Sobre ele escreveu o poeta Paul Éluard: “Sade quis devolver ao homem civilizado a força dos seus instintos primitivos, quis desembaraçar a imaginação amorosa dos seus próprios objetos. Julgou que daí, e só daí, nasceria a verdadeira igualdade(…)”
"NOVELAS ERÓTICAS"
"FILOSOFIA DE ALCOVA"
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A Filosofia de Alcova, do Marquês de Sade, uma edição da Antígona |
A Filosofia de Alcova, publicado em 1795, não é “p’ra meninos”. Que é como quem diz, não é para quem torce o nariz às pulsões mais violentas, agónicas e mortais que fazem parte do humano. Não é certamente para quem considera, como Rosseau, que o Homem nasce bom e é corrompido pela sociedade. A Filosofia de Alcova, mais do que um livro erótico sobre a educação perversa que recebe a jovem e pura Eugénia, é um livro político que influenciou profundamente autores como Freud, Maurice Blanchot, Pierre Klossowsky. Sobre ele escreveu o poeta Paul Éluard: “Sade quis devolver ao homem civilizado a força dos seus instintos primitivos, quis desembaraçar a imaginação amorosa dos seus próprios objetos. Julgou que daí, e só daí, nasceria a verdadeira igualdade(…)”
"NOVELAS ERÓTICAS"
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As Novelas Eróticas que o ex- presidente da República Manuel Teixeira Gomes escreveu depois de se exilar na Argélia. Edição Relógio d’ Água |
Uma das coisas
mais eróticas destas novelas de Teixeira Gomes é a Língua Portuguesa. A mestria
com que ele usa as palavras, o ritmo, faz confluir o mundo interior e exterior,
como funde o explícito e o implícito, o manifesto e o latente. Nestas histórias
curtas, publicadas pela primeira vez em 1935, encontramos a celebração da beleza
e juventude dos corpos masculinos e femininos mas também dos elementos, do
cosmos e do caos. O erotismo, e Teixeira Gomes compreendeu-o tão bem como
Bataille está intimamente ligado à morte, às festas pagãs, à violência.
"HENRY-JUNE"
Este livro é
apenas uma parte dos diários eróticos da escritora francesa Anaïs Nin e retrata
o envolvimento amoroso da escritora com Henry Miller, outro autor fundamental
da literatura erótica, e com a mulher deste, June. Henry & June, que deu
origem ao filme homónimo é maravilhosamente escrito, colocando o enfoque na
busca feminina do prazer que se faz na ultrapassagem de interditos vários entre
eles a homossexualidade.
Em 2001, o entusiasmo de Eduardo Prado Coelho convenceu-nos a ler a biografia sexual da famosa curadora e crítica de arte francesa no livro A Vida Sexual de Catherine M. A obra não é grande coisa, convenhamos, mas serviu para uma geração de jovens provincianos descobrirem como uma mulher pode viver de forma verdadeiramente libertina e sobretudo dos prazeres do sexo em grupo. Foi um bestseller em vários países.
"HENRY-JUNE"
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“Henry & June” retrata a relação da escritora francesa Anaïs Nin com o escritor Henry Miller e a sua mulher June |
“A Vida Sexual de Catherine M.”
Em 2001, o entusiasmo de Eduardo Prado Coelho convenceu-nos a ler a biografia sexual da famosa curadora e crítica de arte francesa no livro A Vida Sexual de Catherine M. A obra não é grande coisa, convenhamos, mas serviu para uma geração de jovens provincianos descobrirem como uma mulher pode viver de forma verdadeiramente libertina e sobretudo dos prazeres do sexo em grupo. Foi um bestseller em vários países.
“O Erotismo”, Georges Bataille
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“O Erotismo”, de George Bataille, escritor, filosofo, antropólogo francês. (Edição ilustrada na Antígona) |
Este ensaio de
George Bataille, escritor e filósofo francês, devia ser obrigatório para
qualquer pessoa que pense escrever — e não somente um livro, um conto ou um
poema erótico, mas quem quer pensar a cultura, a arte, a política. O erotismo é
uma viagem histórica, social, antropológica e filosófica às origens do erotismo
nas primeiras comuniddaes humanas, na sua relação com o aparecimento no homem
de uma consciência simbólica, uma consciência do sagrado, do trabalho, da
guerra, etc. Tributário dos estudos de Marcel Mauss mostra como o erotismo está
sempre ligado aos interditos e à sua transgressão.
“Teoria King Kong”, Virginie Despentes
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“Teoria King Kong” é um ensaio polémico sobre a sexualidade (Editora: Orfeu Negro) |
Embora seja um
livro que em grande parte revisita as teorias de Bataille, este ensaio da
polémica cineasta francesa Virginie Despentes, saiu recentemente em Portugal na
Orfeu Negro, é já um marco nos estudos de género, e apesar da má fama da sua
autora não é um livro siderado pela histeria feminista. Virginie aborda a
sexualidade feminina e masculina e a construção de interditos e preconceitos
que impossibilitam que homens e mulheres tenham uma vivência livre do seu
erotismo. Um dos pontos de partida do livro está nas vivências tidas pela
autora durante os anos em que trabalhou como prostituta.
É provável que a
tribo cada vez maior de “donos” de Herberto Helder fique chocada por esta
poesia ser considerada erótica. Mas certamente só quem tem uma visão exígua do
erotismo e da poesia do autor pode recusar-lhe esta dimensão. O corpo, o órgão
sexual feminino, o sangue menstrual e a sua relação com os astros, as
constelações, os ritmos da natureza formam uma grande tessitura erótica, no
sentido de Eros, como deus tutelar das ligações cósmicas. Se no Amor em
Visita esse fulgor erótico é claro e pujante, noutros poemas da sua
obra encontramos de novo esta expressão profunda de vida e morte, da
religiosidade através da sexualidade. É a própria linguagem que transgride os
seus códigos e o corpo da língua portuguesa é levado aos limites.
“Amor em Visita”, Herberto Helder
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“O Amor em Visita”, primeiro livro de Herberto Helder pode ser lido no seu “Ou o Poema Contínuo” |
“Antologia de Poesia Erótica de Satírica”, org. Natália Correia
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Antologia organizada pela poeta Natália Correia e que a levou ao banco dos réus. (Uma edição Antígona/Frenesi) |
Esta antologia
que atravessa toda a história literária portuguesa é também um marco na
resistência e luta contra o fascismo. Publicada pela primeira vez em 1966,
levou Nátalia Correia e o seu editor Ribeiro de Mello, da Afrodite, a um
processo em tribunal que resultaria na sua condenação. Começando no século XIII
vai até ao século XX e engloba autores inesperados como Antéro de Quental ou
Fernando Pessoa. Esta antologia tem ainda um cultíssimo prefácio de Natália
Correia precisamente sobre o erotismo.
(Excerto de um artigo do observador neste
link https://observador.pt/2017/08/27/a-literatura-erotica-ainda-e-possivel-no-seculo-xxi/ que
poderão ler mais desenvolvido.